Liderança

O que a Olimpíada de Sydney me ensinou sobre liderança

Eu sempre trago aqui paralelos entre o esporte e o empreendedorismo. Nem poderia ser diferente. São as duas áreas às quais eu dediquei (e dedico, claro) a minha vida. Foram 20 anos como nadador e, hoje, mais do que isso, já, como empresário, palestrante e mentor.

Nessa linha, a Olimpíada de Sydney-2000 me garantiu um grande aprendizado em um pilar que eu considero essencial para qualquer empresário ou gestor: liderança.

Relembrando um pouco a minha participação naquela edição dos Jogos, foi neles que eu conquistei a minha quarta medalha olímpica, o bronze no revezamento 4 x 100 metros livre.

E, aqui, mais um parêntese: para quem afirma que a natação é um esporte individual, sinto muito, mas não é. Na hora em que você nada, pode até ser que você esteja sozinho ali na piscina, na sua performance. Mas até chegar lá… Tem muita gente envolvida.

No revezamento, então, somos uma equipe. Quatro nadadores combinando metas e performances em busca de um objetivo único. E esse da Austrália me ensinou muito sobre o papel que um líder deve executar.

Na composição do time, tínhamos dois veteranos (eu e o Fernando Scherer, o Xuxa) e dois novatos (Carlos Jayme e Edvaldo “Bala” Valério). Enfrentamos muitas situações que precisaram de ações certeiras, porque, muitas vezes, não se tem uma segunda chance em Olimpíada.

Quando estávamos definindo o papel de cada um naquela prova, eu entendi que, como um dos mais experientes ali, tinha de assumir uma posição de liderança. E, ao lado do Xuxa, foi o que fizemos.

Até porque o próprio Fernando estava com uma condição complicada, pois estava com o pé machucado. Discutimos muito sobre como seria a participação dele naquele revezamento, até mesmo se estava bem para nadar. Mas Xuxa não é apenas um dos atletas mais talentosos que eu conheci, como também um dos que mais têm a mente forte nesses momentos.

Na final, ele não apenas assumiu a posição dele de nadar a prova como pediu para abrir o revezamento. Ou seja, foi o primeiro a cair na água, e fez um grande trabalho.

Coube, depois, conversar bastante com Jayme e Edvaldo, dois atletas incríveis, para acalmá-los no momento de mais tensão da carreira deles, até aquele momento. O resultado foi que também tiveram performances incríveis, a ponto de o Valério ter recebido um reconhecimento internacional pela maneira como fechou aquele 4 x 100 metros livre, garantindo a medalha de bronze para o Brasil.

O papel de um líder, muitas vezes, é esse. Primeiramente, conhecer muito bem a sua equipe. Você tem de saber exatamente quem são as pessoas e, principalmente, qual momento elas estão atravessando. Não dá para exigir mais do que elas podem entregar em determinados momentos.

É essencial que você saiba o tipo de diálogo que tem de ter com cada um. Não adiantava nada eu usar a mesma abordagem que tive com o Scherer, um cara que já conhecia há muito, muito tempo, que já era medalhista olímpico e havia sido eleito o melhor nadador do mundo dois anos antes, com os dois novatos. Eram cabeças, expectativas, preparações e até mesmo frios na barriga diferentes.

A força de trabalho, digamos assim, que cada um de nós pode entregar, naquele momento, nos garantiu um pódio olímpico. Sem dúvida alguma, uma das medalhas mais especiais da minha carreira. Eu já tinha três, até ali, mas comemorei como se fosse a primeira.

Por isso, a dica que eu deixo para você, empresário, líder e gestor que busca tanto o crescimento da sua empresa e do seu negócio, é: conheça a sua equipe no detalhe. Sei que, algumas vezes, em cenários nos quais você emprega centenas, milhares de pessoas, fica mais difícil. Mas alguém do seu grupo de confiança, camada por camada, hierarquia por hierarquia, tem de conhecer. Para que essa pessoa, então, esteja apta a dizer o que o setor dela precisa para funcionar melhor.

A partir da Olimpíada de Sydney, eu me dediquei muito a isso. Um ensinamento que, como disse, carrego até hoje nas minhas empresas e nos meus negócios. Não sou ninguém sem o meu time e faço absolutamente tudo o que posso e está ao meu alcance para desenvolvê-lo da melhor maneira possível. 

Juntos sempre seremos mais fortes.

Gustavo Borges

Gustavo Borges é um dos principais nomes da natação mundial. Com quatro medalhas olímpicas e 19 em Jogos Pan-Americanos, é exemplo de motivação e foco dentro e fora das piscinas. É empresário e comanda um conglomerado de empresas, sendo a principal delas a Metodologia Gustavo Borges. Esta é referência em assessoria de gestão aquática, atendendo mais de 420 clientes simultaneamente pelo país. Palestrante motivacional para empresas. O foco é inspirar líderes e equipes inteiras dos mais diversos setores.

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