Ter uma equipe de alta performance ao seu lado é fundamental para atingir qualquer resultado. Tive várias experiências ao longo da minha carreira, com grandes times e grandes atletas ao meu lado. A natação só faz campeões se tivermos um trabalho em equipe forte. Portanto, o resultado, mesmo que individual, sempre tem uma grande ajuda de um time nas conquistas.
Os ensinamentos são grandes nessa relação entre uma equipe e resultado. Já postei muitos materiais sobre trabalho em equipe em outros blogs, aqui neste canal. O exemplo que trago desta vez é sobre os Jogos de 2000, em Sydney. A cooperação e a união do nosso time, sem dúvida nenhuma, trouxe um resultado fantástico para o Brasil.
Nesta competição em Sydney, tivemos a oportunidade de testar nossa equipe de alta performance. Tanto no meio empresarial quanto no esportivo, as características são muito similares quando o assunto é esse. Muitos artigos, como o do Portal Dale Carnegie, trazem as habilidades e características de uma equipe de alta performance. A relação é grande entre o que acontece no esporte com qualquer empresa que busca resultados. A definição abaixo, feita pela Endeavor, reforça isso.
Uma equipe de alta performance é aquela que demonstra elevada competência e destacado grau de comprometimento. São pessoas realmente alinhadas, que têm em comum valores, visão, objetivos e engajamento.
Sandra Betti, especialista em identificação de talentos e team building, na Endeavor
Abaixo, listo algumas características que fizeram com que a nossa equipe fosse vitoriosa em Sydney-2000. Apesar de muitos fatores interferirem no nosso resultado, e explico os detalhes abaixo, esses pontos foram cruciais para o nosso resultado. O Dale Carnegie tem um artigo interessante sobre este assunto, mas, abaixo, deixo o que me impactou na nossa equipe.
. Muita confiança em cada um que formava aquela equipe.
. Trabalho com excelência.
· O objetivo era muito claro e fomos para cima.
· Todos contribuíram para o sucesso. Cada um com a sua responsabilidade.
· Sabíamos que a união e a cooperação entre nós seria a chave para a medalha.
· A soma dos indivíduos forma uma grande equipe. Ninguém era mais importante do que ninguém.
Nossa equipe brasileira tinha muitas chances de finais olímpicas naqueles Jogos. Sem dúvida, o revezamento 4 x 100m livre era a nossa grande esperança de medalha. Porém, tínhamos uma situação difícil dentro da equipe, e teríamos de fazer ajustes.
Dois atletas eram experientes, com um total de quatro medalhas olímpicas juntos: eu e o Fernando Scherer.
O Fernando estava com um grande problema: havia lesionado o pé durante o treinamento, poucos meses antes dos Jogos. Ou seja, uma situação complicada para a nossa equipe.
Os outros dois atletas eram calouros em Olimpíada. Carlos Jayme, o Goiano, em sua primeira edição dos Jogos estava deslumbrado com tudo. Já o baiano Edvaldo Bala Valério, com seu jeito tranquilo, poderia estar nos Jogos Olímpicos ou no Campeonato Baiano, já que, para ele, seria a mesma coisa.
Uma coisa era certa: sabíamos que era um time de alta performance. Todos preparados e prontos para a competição. A estratégia era arriscar tudo com os mais experientes à frente do revezamento.
Estrategicamente, colocar um baiano tranquilo para fechar o revezamento naquela prova disputada foi crucial. Colocamos o Carlos Jayme no meio, tirando a pressão e dando tranquilidade para o resultado.
A competição estava sendo disputada em um nível muito forte, mas, logo no início, sabíamos que aquele revezamento seria a nossa chance de medalha, como eu já disse. Na eliminatória, já dava para sentir o nervosismo na sala de balizamento, onde os atletas se concentram momentos antes de competir.
Inclusive, esse é o momento onde se ganha ou se perde uma competição, tamanha a pressão.
Estados Unidos e Austrália eram os fortes candidatos ao ouro e à prata. As duas equipes eram muito melhores do que as outras. Com isso, faltava apenas o bronze para ser disputado por muitos países, entre eles, Holanda, Alemanha, França, Itália… Ah, e o Brasil!
Nós estávamos na última série e a Holanda competiu em uma anterior. Eles tinham o grande Pieter van den Hoogenband no quarteto, aquele que eu ensinei a nadar em 1996, em Atlanta. Claro que isso é uma brincadeira, porque ele ficou em quarto e quinto lugares nas duas medalhas que ganhei naquela Olimpíada, nos Estados Unidos…
A equipe deles era tão boa que o Pieter ficou fora da eliminatória para descansar para as finais. Essa tática é muito utilizada por equipes fortes.
E lá foi a Holanda, nadando muito e fazendo um tempo ótimo na eliminatória. Momentos depois do fim da série, o anunciante disse que a equipe da raia 4 havia sido desclassificada. Era a Holanda fora das finais.
“Holanda desclassificada!”
Esse foi o grito do Fernando, na sala de balizamento. Eu levantei assustado. não com a desclassificação, mas, sim, com o grito dele e a vergonha de ver tanta gente na sala comemorando uma desclassificação… Pedi calma a ele e aos outros da equipe e disse para ficarmos concentrados.
Imagine o seu maior adversário ser desclassificado? O importante, agora, era nos classificarmos para as finais. Fomos para a nossa série, e era evidente a tensão e a alegria, misturados, na nossa equipe. Fizemos uma prova naquela manhã bem tensa e mediana, mas foi o suficiente para entrar nas finais.
Quando se tem uma equipe de alta performance, o compromisso com o resultado é determinante. Depois de muita tensão na eliminatória, tivemos vários momentos de equipe, que foram cruciais para a medalha.
Concentração, conversa, foco no nosso objetivo e confiança foram importantes, naquele momento. A certeza de que o resultado individual não era mais importante do que o resultado da equipe fez com que a medalha fosse conquistada.
Naquela tarde, disputamos a prova com força e garra. A diferença entre as equipes era pequena. Braçada a braçada, fomos para cima do resultado e saímos com a medalha de bronze. O Edvaldo, na última perna do revezamento, trouxe o bronze para casa. A diferença para a Alemanha, que foi quarta colocada, foi pequena. Fez lembrar o nosso quarto lugar na Olimpíada de 1996, em Atlanta, quando a própria Alemanha ficou com o bronze.
Pronto! A medalha havia sido conquistada. E era do Brasil! Foi uma felicidade tão grande, que americanos e australianos ficaram espantados com tamanha vibração. Um bronze que nos fez campeões, naquele dia.
Olimpíada é o auge da carreira de qualquer atleta da natação. Tive a oportunidade de participar de quatro eventos olímpicos, cada um com suas características especiais. Sem dúvida, todos trouxeram experiências diferentes e emoções, que iam da extrema felicidade ao nervosismo completo. Desde a Vila Olímpica, repleta de novidades, até os parques desportivos, tudo é novidade.
Imagine participar de um evento para o qual você se prepara uma vida inteira. Você cria uma enorme expectativa e tem apenas alguns segundos para resolver tudo. É mais ou menos assim: trabalhei durante tantos anos e, num belo dia, com hora marcada, tive de dar o meu melhor. E isso em menos de um minuto…
Se for bom, o resultado vai te consagrar. Se for ruim, tente de novo daqui a quatro anos…
Em Sydney, não foi diferente. Mas, dentre todas as emoções olímpicas, essa teve um gostinho especial. Conseguimos a medalha com aquela equipe de alta performance.
A história e a memória daquele dia vive dentro de todos nós, e fico sempre feliz em dividir isso com as pessoas. Falo sobre isso na minha palestra motivacional e sempre me emociono…
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